quinta-feira, janeiro 29, 2009

Atividades educativas para pacientes internados em hospitais

Os hospitais também são lugares para educar. Para quem imagina que não, que esse é um tipo de atividade sem aproveitamento, o Núcleo de Educação Popular Paulo Freire (NEP) da Universidade do Estado do Pará (Uepa) prova o contrário.

Por meio de atividades pedagógicas com cultura popular, os educadores do núcleo realizam atividades com pacientes em regime de internação ou semi-internação em hospitais como a Santa Casa de Misericórdia e Hospital de Clínicas.

"Diferente da alfabetização tradicional, a prática em comunidades hospitalares não tem a finalidade apenas de escolarizar; são realizadas atividades educativas que envolvem desenho, leitura, dinâmicas de grupo, escrita, ludicidade e socialização, sendo que as atividades dependem muito do que a paciente precisa, levando em consideração sua fragilidade pela doença", garante Ivanilde Apoluceno, coordenadora do NEP. De acordo com a coordenadora, por meio das ações pedagógicas, os pacientes passam a interagir mais com as outras pessoas e a lidar melhor com a doença.

Em 2008, foram desenvolvidas atividades nos espaços Acolher e Pediatria da Santa Casa, com familiares e pacientes, entre os quais, vítimas de escalpelamento e com mães cujos bebês estão na UTI, mas que estão amamentando. No Hospital de Clínicas, as ações educacionais foram realizadas com crianças e jovens com transtornos mentais. Esse ano, o grupo foi convidado para trabalhar com pacientes crônicos-renais no Hospital de Clínicas e no Ophir Loyola. Por isso, estão formando novos grupos de estudos e trabalhos.

Uma iniciativa que requer principalmente dedicação. Para a coordenadora do NEP, trabalhar em comunidades hospitalares exige estudo e principalmente preparação psicológica, já que algumas pessoas não conseguem trabalhar com as atividades nos hospitais, devido à realidade enfrentada pelos pacientes.

"É um trabalho que exige preparação psicológica, porque nós lidamos com o sofrimento de pessoas muito fragilizadas pela doença. E os educadores se envolvem muito com os pacientes. Já aconteceu dos educadores desenvolverem atividades pedagógicas com um paciente em um dia e, no dia seguinte, ele havia falecido. É um choque muito grande, e algumas pessoas não conseguem lidar com isso", revela Ivanilde.

Ivanilde explica, ainda, que o educador do NEP, ao realizar atividades educacionais em hospitais, se defronta com a existência de rotinas e normas rígidas, com horários e atividades pré-estabelecidas, onde geralmente não existe espaço preparado para o atendimento educacional. Em geral, usa-se o refeitório ou sala de atendimento médico para este fim e há predominância de práticas de recreação e de terapia ocupacional em detrimento das direcionadas à escolarização.

Os pacientes e seus acompanhantes - a grande maioria oriunda do interior do Estado - são convidados a participar das atividades e se inscrevem voluntariamente para integrar as turmas. Os grupos aos poucos vão crescendo e os pacientes perdendo a timidez e superando dificuldades de interagir.

O trabalho é desenvolvido em parceria com os profissionais de saúde. Os educadores aprendem a ler prontuários e se mantêm informados sobre a história de vida do paciente para depois desenvolver as atividades, que são específicas, e variam de acordo com o tipo de enfermidade e a rotina de cada paciente. Para as vítimas de escalpelamento, por exemplo, as atividades aconteciam em grupos reduzidos devido ao risco de infecção no contato com muitas pessoas.

"As pessoas que estão internadas não querem um professor que passe ditado, que dê aula no método tradicional. Nós respeitamos as especificidades de cada um deles, dialogamos, aprendemos junto com eles, e não os tratamos com um olhar preconceituoso como se fossem coitadinhos que estão doentes" diz Maria de Jesus, coordenadora de uma das turmas da Santa Casa, que trabalham apenas com crianças que estão internadas.

Atividades - Os grupos de educadores, que variam entre quatro e cinco pessoas, são compostos por alunos ou ex-alunos dos cursos de Pedagogia, Letras e Ciências da Religião. Antes de fazer parte desse grupo específico de educadores, os alunos passam por uma formação que lhes permite conhecer como são feitas as atividades, e depois realizam as visitas apenas como observadores, orientados por um coordenador. Posteriormente passam a desenvolver com o grupo as ações educacionais.

Mais comum em estados do Sul do país, a educação em comunidades hospitalares do NEP é uma prática que iniciou em 2002, com uma turma na Associação Voluntária de Apoio à Oncologia (AVAO). Algum tempo depois foram convidados a realizar as atividades na Santa Casa, depois no Hospital de Clínicas e, futuramente, no Ophir Loyola.

Agência Pará de Notícias

28/01/2009

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