segunda-feira, julho 28, 2008

O Pelouro - uma escola pioneira

No âmbito de um curso intensivo europeu em inclusão escolar e social, realizado na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Bragança, entre 16 de Junho e 11 de Julho, numa parceria com a Faculdade de Educação da Universidade de Zaragoza (Espanha) e com o St. Patrick`s College de Dublin, e sob proposta do prestigiado professor Santiago Molina Garcia, fizemos uma visita de estudo, no dia 19 de Junho, a «O Pelouro», uma escola fundada em 1973, em Caldelas do Minho, localidade próxima de Tuy, na Galiza, em frente a Melgaço, e gozando as belezas naturais proporcionadas pelo rio Minho.


Trata-se de uma escola excepcional, não-estatal, portanto dita privada, que sobrevive tanto com fundos privados como do Governo Galego.


É ainda uma escola que, desde o início, nasceu para construir a inclusão escolar e social de crianças com necessidades educativas especiais (antes designadas por deficientes), integrando-as com crianças normais, numa proporção de cinco para 20.

O que nos impressionou naquela escola (Santiago Molina já a conhecia e, por isso, até problematizava as suas vantagens e inconvenientes) foi que a filosofia de base do trabalho sócio-escolar não é adaptar as crianças com necessidades educativas especiais (NEE) ao trabalho das crianças normais – como ocorre nas escolas em geral, em Portugal, e, mesmo, na Escola da Ponte, em S. Tomé de Negrelos – Vila das Aves, apesar da originalidade desta, mas, antes, integrar as crianças normais nos processos de trabalho necessários às crianças com NEE e, assim, construir e reconstruir um currículo escolar baseado nas necessidades dos alunos com problemas, nos seus ritmos de trabalho e no trabalho de projecto.

Os professores discutem com os alunos os projectos a desenvolver, tornando os objectivos claros, ajudam-nos a estruturar e a organizar materiais de estudo e de trabalho e, depois, a actividade escolar desenvolve-se em regime cooperativo e em autonomia do trabalho dos alunos, com momentos diários de análise do trabalho realizado e de reorientação do mesmo, caso necessário.

A arte, a actividade físico-motora e a educação musical desempenham um papel fundamental na actividade escolar. Muitas das actividades escolares decorrem ao som de música quando esta não perturba as crianças autistas. Para estas, a prática educativa não é pensada numa perspectiva de integração forçada. Antes se procura criar condições para que sejam elas a necessitar de interagir com as outras e respeitar o seu silêncio quando elas dele necessitam.

O Pelouro é uma escolar invulgar, mais avançada do que a nossa Escola da Ponte, iniciada em 1976. Talvez tenha sido ali, numa visita realizada em 1974, que o mestre fundador desta escola, o professor José Pacheco, foi beber a inspiração para semear, através da Escola da Ponte, a revolução pedagógica em Portugal. Outras revoluções passaram também por ali, como a portuguesa de 1974 e a espanhola de 1976. O Pelouro é, de facto, uma escola diferente, impressionante pela sua simplicidade e harmonia social, notável pela inclusão e integração das crianças com NEE e radical nos seus princípios pedagógicos.

O Pelouro não está, porém, na linha da escola livre de Summerhill, na Escócia. É uma escola democrática, é certo, mas a democracia só abrange os modos de aprender e de viver social e não todos e quaisquer conteúdos do currículo. Pedagogicamente, é uma escola híbrida, onde interactuam muitos métodos, sobretudo os de Dewey, Kilcpatrick, Freud e Erikson, Freinet, Piaget, Ausubel, Taba e Bronfenbrenner.

Porém, há que garantir o futuro tanto de O Pelouro como da Escola da Ponte para lá dos seus criadores. Um desafio a que não sobreviveram nem a Escola de Summerhill nem a Escola Freinet, entre outras. Compete-nos a nós todos, profissionais da educação, não deixar morrer nem o sonho nem a esperança numa escola melhor. Por isso, visitem e ajudem O Pelouro.

mail: Henrique da Costa Ferreira

Diário de Trás-os-Montes

Portugal

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