quinta-feira, novembro 06, 2008

Casa cheia no seminário sobre dislexia no Cenfim das Caldas

Mais de 90 pessoas, entre educadores, professores, formadores e outros técnicos de educação e saúde, participaram no seminário subordinado ao tema “Dislexia – Intervenção Pedagógica”, que teve lugar no dia 27 de Outubro, no núcleo do Cenfim de Caldas da Rainha.
Perante uma plateia que esgotou a sala deste centro de formação e obrigou os organizadores a recusar inscrições, Helena Serra, presidente da Associação Portuguesa de Dislexia, cativou a atenção dos participantes que quiseram aprender mais sobre o tema, de forma a poderem no futuro reconhecer as características comportamentais e escolares dos alunos com dislexia.
Cristina Botas, Directora do Cenfim de Caldas da Rainha, responsável pela organização do evento, achou importante trazer à comunidade educativa das Caldas o tema da dislexia, porque “é um facto que, desde há muito tempo, professores de diversos graus de ensino, mas em especial os do Ensino Básico, se confrontam com o facto de certos alunos, de níveis de inteligência normais ou até, em muitos casos, acima da média, não tendo carências de tipo sociocultural ou distúrbios emocionais, evidenciam, no entanto, profundas dificuldades na aprendizagem da leitura e da escrita”.
Segundo Cristina Botas, “o termo dislexia tem sido sinónimo de muita confusão e é frequente ser confundida com outros problemas de adaptação escolar, principalmente com os de atraso de desenvolvimento, de dificuldades iniciais na aprendizagem da leitura e escrita, de problemas de ordem afectiva ou problemas de deficiência mental ligeira”.
Para esta responsável, a necessidade dessa clarificação é imperiosa, “não só para que a escola e a família possam compreender este tipo de problema, quando ele de facto existe, mas acima de tudo para que o aluno possa ser ajudado a superar a sua dificuldade e não se desencoraje de continuar a trabalhar”.
Mencionando várias fontes de outros especialistas em dislexia, Helena Serra abordou a problemática, referindo as dificuldades pedagógicas apresentadas por uma criança com dislexia, acompanhada de intervenção psicopedagógica para a superação desse transtorno de aprendizagem. De acordo com esta profissional, cerca de dez por cento da população portuguesa sofre de dislexia, revelando que são poucos os professores que obtiveram formação sobre esta problemática. Segundo apontou, à medida que a investigação na área se desenvolveu, a etiologia da dislexia tornou-se mais esclarecedora, nomeadamente no sentido em que se constatou que esta surgia em indivíduos com uma inteligência normal, sem problemas neurológicos ou físicos evidentes.
A Federação Mundial de Neurologia define a dislexia como “dificuldade na aprendizagem da leitura, independentemente da instrução convencional, adequada inteligência e oportunidade sociocultural. Depende, portanto, fundamentalmente, de dificuldades cognitivas de origem constitucional”, referiu.
A presidente da Associação Portuguesa de Dislexia revelou que existem dois tipos de problemas: a dislexia adquirida e a dislexia de desenvolvimento. “A primeira manifesta-se em indivíduos que haviam aprendido a ler correctamente e que, após lesão ou trauma, não conseguem continuar a ler sem erros. Por outro lado, a dislexia de desenvolvimento manifesta-se desde o início da aprendizagem, através de problemas na aquisição da leitura, sem que se verifique a presença de lesão cerebral”. Nesta perspectiva, esta profissional referiu que “a dislexia é considerada uma perturbação da linguagem que se manifesta na dificuldade de aprendizagem da leitura e da escrita, em consequência de atrasos de maturação que afectam a área motora, a capacidade de discriminação perceptivo-visual, os processos simbólicos, a atenção e a capacidade numérica em sujeitos que apresentam um desenvolvimento adequado para a idade e aptidões intelectuais normais”.
As características da dislexia podem agrupar-se em dois grandes blocos: comportamentais e escolares. “Na primeira categoria as autoras incluem a ansiedade, a insegurança, a atenção instável ou o desinteresse pelos estudos. Relativamente às características escolares, as autoras referem um ritmo de leitura lento, com leitura parcial de palavras, perda da linha que está a ser lida, confusões na ordem das letras (ex.: sacra em vez de sacar), inversões de letras ou palavras (ex: pró em vez de por) e mescla de sons ou incapacidade para ler fonologicamente”, descreveu Helena Serra.
Problemas de percepção e imitação auditiva, problemas de articulação, dificuldades em seguir orientações e instruções, dificuldades de memorização auditiva, problemas de atenção, dificuldades de comunicação verbal, dificuldades na interpretação e diferenciação de palavras, confusão na configuração de palavras, dificuldades em relacionar a linguagem falada com a linguagem escrita, e dificuldades na percepção social, foram outras características comportamentais apontadas pela oradora.
“Liderança e Gestão de Equipas”, destinado a empresários, é o tema do próximo seminário a levar a cabo pelo Cenfim das Caldas da Rainha, que terá lugar no início de 2009. “O objectivo é desenvolver temas importantes e a abrir as portas do Cenfim à população”, disse a directora deste centro de formação.

Marlene Sousa

Jornal das Caldas Online - Portugal

05 de novembro de 2.008

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