terça-feira, maio 23, 2006

Ensinando o aluno com deficiência mental - Sugestões para o professor

Prezado professor:

Como já vimos nos textos anteriores, o ensino e a avaliação são processos interligados, contínuos e interdependentes.

Em função dos objetivos postos no Plano de Ensino, iniciamos nossa tarefa de ensinar. Ao depararmo-nos com um problema na relação de ensino e aprendizagem, devemos analisar o que está ocorrendo nessa relação (tanto no que se refere a características e peculiaridades do aluno, como ao que se refere à nossa prática de ensino), e promover os ajustes que nos permitam responder às necessidades especiais do aluno.

Quando o comprometimento do aluno é menor, geralmente pequenos ajustes metodológicos são suficientes para garantir a aprendizagem. Quando este for maior, possivelmente exigirá de nós ajustes mais diversificados, mais intensos e mais freqüentes. Quando o comprometimento for de tal monta que nossas adaptações não se mostram eficazes para atender a suas necessidades, devemos encaminhar o caso para a equipe de apoio pedagógico, para que se efetive um estudo mais amplo e aprofundado do caso, e que se elabore um Plano Individualizado de Ensino, para esse aluno em particular.

Apresentaremos, a seguir, algumas sugestões de adaptações curriculares (de objetivos e conteúdo) que podem ser úteis para atender a necessidades do aluno com deficiência mental. Gostaríamos, entretanto, de enfatizar que cada aluno é uma individualidade ímpar, o que exige que o focalizemos individualmente, sem jamais compará-lo com os demais.

DICAS PRÁTICAS

1. Qualquer aluno pode apresentar necessidades educacionais especiais. Focalize e analise um por um.

2. Necessidades especiais podem ser encontradas nas áreas de desempenho acadêmico, comportamental, físico e social. Procure identificar quais as áreas nas quais seu aluno apresenta necessidades especiais.

3. Para o professor, é mais importante identificar as necessidades especiais de seu aluno, do que saber o rótulo técnico a ele atribuído. Procure identificar quais as necessidades especiais de seu aluno.

4. A quantidade de conteúdo abordado e o ritmo de ensino são fatores importantes para o sucesso do ensino. É mais provável que um aluno aprenda, se a prática for feita em vários períodos curtos. Trabalhe um conteúdo de cada vez, e respeite o ritmo de seu aluno.

5. O ensino ativo (também denominado ensino direto) é uma forma geralmente útil para o ensino ao aluno com deficiência mental. Demonstre ao aluno a estratégia adequada para o desenvolvimento da atividade solicitada, proporcione o máximo possível de oportunidades para que ele responda, forneça acompanhamento e feedback, sistemática e regularmente.

6. Um bom ensino pode se efetivar em grandes grupos, em pequenos grupos, ou em uma relação um-a-um. O critério de escolha é o sucesso do aluno. Identifique qual configuração melhor atende às necessidades especiais de seu aluno e implemente-a.

7. Ao trabalhar cada conteúdo curricular, na seqüência do currículo regular, é importante que o professor verifique a informação e as habilidades que o aluno já apresenta, bem como seus interesses e necessidades de aprendizagem. Avalie o ponto de partida de seu aluno, para cada conteúdo introduzido.

8. É mais provável que um aluno esteja motivado, para aprender, quando o conteúdo tem significado para ele. Trabalhe com conteúdos que sejam significativos para seu aluno, partindo preferencialmente de dados de sua realidade.

9. É mais provável que um aluno aprenda se as condições da sala de aula forem agradáveis. Faça de sua aula momentos de prazer.

10. É mais provável que um aluno aprenda, quando sua atenção é atraída por apresentações relativamente novas. Procure diversificar sua forma de apresentar novos conteúdos; surpreenda seu aluno!

11. É mais provável que um aluno aprenda, se as dicas instrucionais forem sendo retiradas gradativamente. Supervisione de perto a execução da atividade, dê-lhe dicas, pense com ele, dê-lhe feedback, retirando seu apoio gradativamente, à medida que ele vai conseguindo desempenhar com maior autonomia.

12. Divida o conteúdo em seqüências menores, procurando auxiliá-lo a construir o conhecimento pretendido passo a passo.

13. É mais provável que um aluno aprenda, se tomar parte ativa nas circunstâncias práticas que se encontram relacionadas com um objetivo educacional. Use e abuse de material concreto quando identificar, em seu aluno, dificuldade de abstração, ainda que em gradações diferenciadas.

14. Quando detectar dificuldade de aprendizagem de um determinado conteúdo, recomece o ensino usando passos menores, ou voltando a fases anteriores da construção do conhecimento.

15. Solicite, de seu aluno, que utilize, em situações práticas e concretas, o conhecimento que está sendo trabalhado.

16. Tempo ocioso tende a desmotivar, a distrair e a criar condições para comportamentos inadequados. Mantenha seu aluno ocupado, com tarefas adequadas para sua capacidade e com sua atenção.

17. Explique conteúdos novos com simplicidade e objetividade.

18. Certifique-se de que o aluno entendeu, dando-lhe oportunidade de interagir com você oralmente.

19. Permaneça num tópico até assegurar-se que ele apreendeu.

20. Quando pedir aos alunos que desempenhem alguma tarefa, descreva a tarefa a ser feita, e como ela deverá ser feita. Use de linguagem simples e objetiva.

21. Procure utilizar-se de estratégias metodológicas alternativas, quando o aluno não tiver aprendido da primeira vez.

22. Dê sempre exemplos que ilustrem o conteúdo que está sendo apresentado.

23. Explique, e então dê tempo para perguntas.

24. Dê oportunidade para o aluno pensar (recorra a exemplos adicionais, a perguntas acessíveis para o aluno, de forma a favorecer sua caminhada epistemológica).

25. Ao aluno não alfabetizado procure trabalhar o conteúdo dos textos, utilizando desenhos, ou descrição oral. Isto se aplica tanto para o ensino, como para a avaliação.

26. Ensine ao aluno estratégias a serem utilizadas para se lembrar de assuntos tratados.

27. Identifique com o aluno diferenças e semelhanças entre conteúdos.

28. Procure utilizar o conhecimento construído em uma área, no trato de conteúdos de outras áreas.

29. Favoreça com que o aluno exercite o conteúdo trabalhado em suas atividades de vida diária. Ex. ensine adição e subtração, usando notas e moedas, simulando situações de compra e venda.

30. Estabeleça metas claras e objetivas. Ex. “Ao final deste semestre, Maria deverá estar soletrando um mínimo de 50 palavras de uso freqüente no vocabulário local.” Ou, “ao final deste semestre, João deverá escrever sentenças simples, contendo informações pessoais, tais como: nome, endereço, número de telefone, etc..”

31. Forneça, ao aluno, dicas, instrução adicional e variadas oportunidades de prática supervisionada.

Para encerrar nosso texto, queremos ainda lembrar que o fator principal, no ensino do aluno com deficiência mental, é a relevância dos conteúdos ensinados, para sua aquisição do melhor nível possível de autonomia no gerenciamento de sua vida pessoal, e para sua posterior inserção no mundo do trabalho.

É dever da escola formar cidadãos, ou seja, pessoas que possam participar do debate social de idéias e dos processos decisórios da vida em sociedade. Todos os alunos têm o direito a isso, inclusive os que provavelmente forem necessitar de tutoria ou de outros suportes durante toda sua existência.

Extraído de
MEC Programa de Educação Continuada para Professores
Administrando o Ensino na Diversidade
Construindo a Escola Inclusiva

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