Daniel Favero
Direto de Porto Alegre
Após lutar na Justiça para conseguir fazer a prova do Enem e ter que lidar durante toda a vida com sentimentos de pena e descrédito, o estudante Guilherme Finotti, 20 anos, portador de paralisia cerebral, conseguiu se formar em Sistemas para Internet pela Universidade Feevale. A Formatura ocorreu na sexta-feira à noite em Novo Hamburgo, distante 50 quilômetros de Porto Alegre, e marcou o final de uma das mais difíceis fases da vida do jovem, marcada pela busca de tratamento igualitário.
"Estou me sentindo muito feliz por mais uma etapa concluída, por estar me graduando em uma profissão que escolhi e pela qual sou totalmente apaixonado. Não foi fácil chegar até aqui. Qualquer PCD (pessoa com deficiência) que chega onde estou, com certeza, em algum momento sofreu preconceitos. No meu caso não foi diferente. O que não contávamos é que esse mal se faria presente quanto falamos do próprio MEC (Ministério da Educação)", disse Guilherme em entrevista por e-mail, na véspera de sua formatura.
Quando fala do MEC, Guilherme se refere ao processo que teve de impetrar na Justiça para conseguir fazer a prova do Enem usando seu computador com teclado e mouse adaptados. "Depois que foi para a promotoria e quando a mídia em massa entrou, eles abriram essa 'exceção'. Se fizeram a lei da inclusão e as escolas deram o suporte que a lei indicava, como é que o Ministério da Educação não daria?", questiona a mãe de Guilherme, Eunice, ao relatar as dificuldades que enfrentou enquanto batalhava pelos direitos do filho. "Eles diziam que para todas as mães os filhos são inteligentes. Mas eu argumentava que não era eu que estava dizendo, mas sim a escola, as notas dele", completa.
A nota de Guilherme foi tão boa que ele conseguiu uma bolsa na universidade, além de ter sido bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em um projeto no qual desenvolveu um software de diagnóstico para portadores de paralisia cerebral. No entanto, ele teve que se afastar da iniciativa no final do ano passado, quando foi contratado para trabalhar na Feevale.
"Apenas ando sobre uma cadeira de rodas e uso algumas adaptações que me ajudam em minhas atividades diárias, no resto, sou igual a você. Não me considero diferente de ninguém. Todos têm dificuldades, alguns mais visíveis, outros menos", afirma Guilherme.
A paralisia cerebral do formando foi provocada por complicações que o deixaram sem oxigenação durante o parto. Quando ele tinha pouco mais de 2 anos, os médicos perceberam que ele havia sofrido sequelas, mas, pouco tempo depois, descobriram que seu cognitivo havia ficado intacto, apesar da deficiência motora. "Ele tem dificuldade de falar, mas quem está próximo entende", diz a mãe, ao relatar que, apesar do filho optar pela independência, ainda precisa de ajuda dos pais. "Se eu apoiá-lo pelo ombro, ele consegue andar, mas ele prefere usar a cadeira elétrica para ser independente".
"É muito ruim ser visto como o coitadinho"
"Estou me sentindo muito feliz por mais uma etapa concluída, por estar me graduando em uma profissão que escolhi e pela qual sou totalmente apaixonado. Não foi fácil chegar até aqui. Qualquer PCD (pessoa com deficiência) que chega onde estou, com certeza, em algum momento sofreu preconceitos. No meu caso não foi diferente. O que não contávamos é que esse mal se faria presente quanto falamos do próprio MEC (Ministério da Educação)", disse Guilherme em entrevista por e-mail, na véspera de sua formatura.
Quando fala do MEC, Guilherme se refere ao processo que teve de impetrar na Justiça para conseguir fazer a prova do Enem usando seu computador com teclado e mouse adaptados. "Depois que foi para a promotoria e quando a mídia em massa entrou, eles abriram essa 'exceção'. Se fizeram a lei da inclusão e as escolas deram o suporte que a lei indicava, como é que o Ministério da Educação não daria?", questiona a mãe de Guilherme, Eunice, ao relatar as dificuldades que enfrentou enquanto batalhava pelos direitos do filho. "Eles diziam que para todas as mães os filhos são inteligentes. Mas eu argumentava que não era eu que estava dizendo, mas sim a escola, as notas dele", completa.
A nota de Guilherme foi tão boa que ele conseguiu uma bolsa na universidade, além de ter sido bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em um projeto no qual desenvolveu um software de diagnóstico para portadores de paralisia cerebral. No entanto, ele teve que se afastar da iniciativa no final do ano passado, quando foi contratado para trabalhar na Feevale.
"Apenas ando sobre uma cadeira de rodas e uso algumas adaptações que me ajudam em minhas atividades diárias, no resto, sou igual a você. Não me considero diferente de ninguém. Todos têm dificuldades, alguns mais visíveis, outros menos", afirma Guilherme.
A paralisia cerebral do formando foi provocada por complicações que o deixaram sem oxigenação durante o parto. Quando ele tinha pouco mais de 2 anos, os médicos perceberam que ele havia sofrido sequelas, mas, pouco tempo depois, descobriram que seu cognitivo havia ficado intacto, apesar da deficiência motora. "Ele tem dificuldade de falar, mas quem está próximo entende", diz a mãe, ao relatar que, apesar do filho optar pela independência, ainda precisa de ajuda dos pais. "Se eu apoiá-lo pelo ombro, ele consegue andar, mas ele prefere usar a cadeira elétrica para ser independente".
"É muito ruim ser visto como o coitadinho"
Apesar das necessidades especiais, Guilherme sempre lutou para ter tratamento igualitário. Ele estudou em escola pública convencional, mas, ao invés de carregar um caderno, guardava o conteúdo em disquetes e pen drives. Ele conta, inclusive, que sua infância foi normal. "A cadeira de rodas nunca me impediu de aprontar com meus amigos, dentro e fora da escola".
O colégio em que estudou teve de implantar sistemas de informática, e os professores tiveram que aprender a usar o computador para acompanhar o jovem, que sempre se destacou nas ciências exatas. "É muito ruim ser visto como o incapaz, como o coitadinho, como o diferente, entre outros sentimentos que as pessoas, mesmo sem querer, passam", diz Guilherme.
O próximo passo é se aprofundar nos estudos em busca de uma carreira bem sucedida. "Pretendo me especializar muito mais em minha área, fazer cursos, ter uma carreira consolidada e bem sucedida, conhecer vários lugares", conta.
Eunice diz que aqueles que não conhecem a paralisia cerebral, acreditam que se trata de uma condição vegetativa e não imaginam ou não acreditam que essas pessoas sejam capazes de feitos como os de Guilherme. "Quase a totalidade das pessoas é assim, tem muita gente que não acredita", diz a mãe ao falar sobre as impressões que a notícia da formatura do filho causa nas pessoas.
"O Guilherme tem que matar um leão por dia, todo dia ele tem que provar que é capaz, que é igual aos outros. E as pessoas olham sempre com desconfiança", completa Eunice.
O sentimento da mãe hoje é o de dever cumprido. "É claro que você nunca está preparado para isso (ter um filho com necessidades especiais), é uma coisa que acontece, mas nunca se está preparado. No primeiro momento foi um choque, mas depois a reação foi de ir à luta, por isso optamos por não ter mais filhos, para que pudéssemos estar à disposição dele, para poder desenvolver ao máximo as capacidades dele, e hoje a gente diz que esse é um momento de glória".
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