quarta-feira, janeiro 23, 2013

Incluir gente grande na EJA

da NOVA ESCOLA:
Entenda os desafios para assegurar o aprendizado a mais de 47 mil alunos com deficiência

Elisa Meirelles (elisa.meirelles@fvc.org.br), de Betim, MG. Colaborou Fernanda Salla

Já é noite em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. Parte das salas de aula da EM Maria Elena da Cunha Braz mantém as luzes acesas, à espera dos alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA). O primeiro a chegar é Cristiano de França, sempre sorridente. Com 38 anos e deficiência intelectual, ele cursa o ciclo 1 (são quatro, no total). "Quando era criança, ia para a escola lá, na roça, mas só me colocavam para brincar. Eu quero aprender. E, aqui, estudo de verdade. Agora, já sei escrever", diz.

Outros estudantes vão chegando e entre eles está José Evangelista Cordeiro, um artesão de 40 anos que não tem os braços e trabalha com tapeçaria. França logo vem dar as boas-vindas ao amigo, o ajuda a ajeitar a bolsa em que traz os cadernos e os dois sobem as escadas gargalhando. Cordeiro está no ciclo 2 e aprendeu a escrever segurando o lápis com os dedos dos pés. "Agora também uso o computador, que é bem mais rápido. Já rodei o meu bairro todinho dentro da tela pelo Google Maps", orgulha-se.

Assim como eles, 47.425 jovens e adultos com necessidades educacionais especiais (NEE) frequentam turmas regulares da EJA no país, segundo o Censo Escolar 2011. Trata-se de uma geração que cresceu quando praticamente não se falava em inclusão. Parte dessas pessoas frequentou instituições especiais, poucas foram para escolas convencionais e outras só ingressaram na sala de aula na vida adulta. "Embora a recomendação de matriculá-las em turmas regulares conste da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, isso só se tornou obrigatório em 2008, com o Decreto nº 6.571", explica Augusto Dutra Galery, coordenador do Projeto Diversa, do Instituto Rodrigo Mendes, site que compila experiências de Educação inclusiva. Desde então, houve um aumento de quase 50% nas matrículas.

Garantir o direito de aprender a quem tem uma deficiência e cresceu no período anterior à lei implica diversas questões. Muitas especificidades têm de ser respeitadas e vencê-las pressupõe organizar ações entre os professores das classes e do Atendimento Educacional Especializado (AEE), os gestores e as Secretarias de Educação, Saúde e Assistência Social.

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