domingo, julho 13, 2008

Confusão diagnóstica aumenta número de pessoas classificadas como "autistas"

Por Faeza Rezende

Em 2006, a Turma da Mônica ganhou um novo personagem: o André. Conhecido por levar para as histórias em quadrinhos as diferenças (sociais, comportamentais e até mesmo físicas), Mauricio de Souza criou o personagem para representar as crianças que fazem parte do espectro autista.

Estatísticas mostram que 0,6% da população mundial sofre de problemas que podem ser classificados como "Transtorno Invasivo do Desenvolvimento", do qual o autismo faz parte.

A neurologista infantil Ivanira Barbosa explica que hoje o termo mais usado para o problema é "espectro autista", que é uma combinação de sinais e sintomas que podem ser encontrados em diferentes doenças e até mesmo em pessoas consideradas normais.

Segundo a especialista, o espectro autista caracteriza-se basicamente por: dificuldades na interação social, transtornos na comunicação e limitação para entender a intencionalidade das outras pessoas. Além disso, os autistas, normalmente, se apegam muito a um objeto, pessoa ou rotina por dias, meses ou anos. Já os maneirismos e a tendência à repetição são sinais menos comuns.

Todavia, a médica conta que o grau dessas dificuldades varia de pessoa para pessoa e várias outras assim como transtornos podem aparecer no indivíduo, dependendo da patologia de base, ou seja, da causa. Por exemplo, a dificuldade no caso da interação social pode variar desde não olhar no olho de outra pessoa até mesmo em não conseguir permanecer em companhia de outras pessoas e procurar o isolamento total.

Ivanira Barbosa ressalta que qualquer pessoa normal pode apresentar um ou mais destes sintomas. Isso causa confusão diagnóstica e faz aumentar o número de pessoas classificadas dentro do espectro autista, assim como no transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Em conseqüência disso, muitas vezes essas pessoas são medicadas erroneamente. "Uma nova classificação internacional de doenças está para ser publicada (CID-11) e espera que essas confusões sejam esclarecidas", informa.

A especialista explica que o autismo nem sempre está associado a deficiências cognitivas ou motoras. Cita, inclusive, grandes nomes da história mundial que estão dentro desse espectro, como Albert Einstein e Bill Gates. Mas ela alerta que, se não compreendidas e não receberem apoio, as crianças podem ter o desenvolvimento comprometido, pois essas dificuldades podem piorar com o passar do tempo e desencadear novos problemas.

"Existem casos que podem melhorar com medicação. Além disso, a estimulação adequada e precoce melhora muito os sintomas", orienta a neurologista. O acompanhamento deve ser constante para proporcionar apoio nas dificuldades que podem ir aparecendo.

A neurologista conta que nem sempre são os sinais característicos do espectro autista que fazem os pais levarem as crianças ao médico, e sim outras dificuldades, como a demora para aprender a ler e escrever, agressividade, hiperatividade e até mesmo suspeita de surdez, pois as crianças podem não responder ao estímulo verbal.

Como os sinais podem ser sutis durante os primeiros dias ou meses, a especialista recomenda que os pais fiquem atentos ao desenvolvimento das crianças desde o nascimento. "Qualquer dúvida, é necessário que se procure um especialista", alerta.

Jornal da Manhã

Uberaba

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