terça-feira, julho 15, 2008

Iodo e desempenho escolar

Sara R. Oliveira| 2008-07-14

Estudo "Aporte de iodo em Portugal" centra-se numa amostra de três mil crianças com idades entre os 7 e os 12 anos. Dificuldades de concentração e mau desempenho escolar podem indiciar níveis deficitários do nutriente.

Avaliar a necessidade de introduzir suplementos alimentares de iodo é o principal objectivo do primeiro estudo epidemiológico sobre "Aporte de iodo em Portugal", que está a ser desenvolvido pelo grupo de estudos para a tiróide da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM). A pesquisa centra-se agora numa amostra de três mil crianças de todo o país, com idades compreendidas entre os 7 e os 12 anos, através da análise da quantidade de iodo na urina, depois de se ter concluído que 70% das grávidas portuguesas têm carência deste nutriente. Esta foi, aliás, a principal conclusão da primeira etapa do estudo que incidiu nesta população específica, uma vez que é durante a gravidez que as necessidades de iodo são maiores e que níveis baixos do nutriente podem estar na origem de bócio na grávida e no bebé e de perturbações cognitivas no feto. Perante estes dados, os especialistas ponderam as vantagens de voltar a introduzir no mercado a venda de sal iodado.

O mau desempenho escolar pode ser um sinal de baixos níveis de iodo no organismo. Esta é uma das hipóteses do estudo que deverá ter dados conclusivos no final deste ano, quando 50% da amostra tiver sido observada. A pesquisa estará terminada no próximo ano. Falta de apetite e estagnação no crescimento podem estar relacionadas com falta de iodo que está presente em certos pescados, frutos, vegetais e água. A falta de iodo nos mais pequenos implica problemas no desenvolvimento cognitivo e motor que se podem expressar em atrasos psíquicos, dificuldade de concentração e estatura reduzida.

O coordenador deste estudo, João Jácome Castro, explica, numa nota enviada à imprensa, que os elementos reunidos até agora dão nota de que a situação das crianças não será tão preocupante como o caso das grávidas. "No entanto, a amostra analisada é ainda muito reduzida e é provável que a situação se altere. O importante é serem criadas condições para que o aporte de iodo nas crianças seja suficiente e que não tenham de ser os pais a suspeitar de carências, através de sinais exteriores como o atraso no crescimento e falta de aproveitamento escolar", sublinha.

A Direcção-Geral de Saúde (DGS) apoia a investigação e garante atenção às medidas que conduzam à introdução de suplementos de iodo na alimentação. "É um problema de saúde pública mundial e estamos a acompanhar de perto a situação em Portugal. As conclusões finais deste primeiro estudo epidemiológico são fundamentais para a tomada de posição que viermos a defender", destaca Machado Saraiva, da DGS, no comunicado enviado à imprensa.

A ciência explica que o iodo é um micronutriente utilizado pela tiróide na síntese hormonal e é responsável pelo normal funcionamento de funções vitais como a regulação da temperatura, frequência cardíaca, funcionamento intestinal, força muscular, memória e estados de humor. A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece que a deficiência de iodo é a "causa evitável mais frequente de doenças mentais e do desenvolvimento". Nestes casos, a UNICEF estima que 41 milhões de recém-nascidos estejam desprotegidos, enquanto a OMS prevê que cerca de 13% da população mundial esteja afectada por doenças causadas por falta de iodo e 30% esteja em risco.

O estudo epidemiológico conta com os apoios do colégio da especialidade de Endocrinologia da Ordem dos Médicos, da DGS, do comité português da UNICEF, e do conselho internacional de controlo dos distúrbios de iodo, contando com o patrocínio institucional da empresa química e farmacêutica Merck.

Educare.pt

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