quarta-feira, julho 09, 2008

Escolas públicas vão ter política para transtornos de aprendizagem

Grupo de trabalho tem até outubro para apresentar propostas de como lidar com crianças com dislexia, hiperatividade e outros distúrbios

08/07/2008 | 03:02 | Denise Paro, da Sucursal

Foz do Iguaçu - O governo federal montou um grupo de trabalho, instituído pela Portaria nº 6, de 5 de junho, para elaborar políticas a fim de aperfeiçoar o atendimento aos portadores de transtornos de aprendizagem em colégios públicos. A intenção é assegurar o direito de todas as crianças de aprender e desmistificar os transtornos. A equipe é formada por especialistas do Ministério da Educação (MEC), universidades e entidades especializadas nos distúrbios.

A diretora de Políticas de Educação Especial da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação (MEC), Cláudia Maffini, diz que a proposta também passa pela discussão de como estão sendo tratados os transtornos nas escolas e pelo estabelecimento de diretrizes para o sistema se organizar para melhor atender os alunos com o problema. “A escola deve buscar os meios”, diz. A comissão tem um prazo de até 120 dias para apresentar a proposta que poderá ser replicada em escolas públicas brasileiras.

Como ainda não há uma política governamental definida nessa área, cada estado trata da questão com os próprios meios. No Paraná, os colégios públicos dispõem de salas especializadas para atender os alunos. Atualmente, há mil salas em todo o estado, destinadas não só ao atendimento de crianças com transtornos de aprendizagem, mas também a portadores de deficiência mental e superdotação. No último levantamento, realizado em dezembro 2007, havia 16,3 mil alunos cadastrados em todas as escolas do Paraná que participavam das diversas atividades oferecidas nas salas.

Os atendimentos, feitos por professores especializados, são agendados com antecedência e realizados no contraturno escolar. Como as salas são utilizadas para atender alunos com diferentes demandas, há necessidade de se estabelecer horários fixos para receber cada grupo. Assim, crianças com distúrbios de aprendizagem têm atividades em horários distintos de outros.

Em Foz do Iguaçu, o Colégio Estadual Castelo Branco recebe os próprios alunos e os de outras escolas. No espaço, chamado de Sala de Recurso, são realizadas tarefas sob supervisão de uma professora especializada em Educação Especial. Os alunos freqüentam a sala pelo menos duas vezes por semana, conforme a necessidade, durante uma ou duas horas. São feitos exercícios de escrita, leitura, interpretação e atividades para estimular a memória e a concentração, conforme o caso.

A professora Mônica Dluhosch é uma das especialistas. Ela diz que o trabalho é importante e vem trazendo resultados promissores para as crianças. Um dos estudantes é Jéferson Legnaghi da Silva, 15 anos, com diagnóstico de hiperatividade. Ele diz que gosta das atividades e sentiu avanço desde o início do trabalho. “Agora estou com mais ânimo para estudar”, resume.

Apesar disso, a equipe enfrenta uma dificuldade, que é a falta de um psicólogo, responsável por avaliar os alunos antes do encaminhamento. Atualmente, o trabalho é feito por psicólogos voluntários.

A professora e coordenadora pedagógica do Departamento de Educação Especial e Inclusão Educação da Secretaria de Estado da Educação (Seed), Nanci Furtado de Menezes, diz que há uma solicitação de escolas para contratação de psicólogos, mas como não há concursos para esse profissional na área da educação, estão sendo feitas parcerias com universidades e prefeituras para solucionar a questão. Dessa forma, os psicólogos de outras instituições emitem o laudo sobre os alunos.

Potencial

Na avaliação da psicóloga escolar e psicopedagoga de Foz do Iguaçu, Marta Lopes, as crianças portadoras dos transtornos têm a tendência de desencadear a baixa auto-estima por se diferenciarem da maioria e sentirem-se cobradas para terem uma “pseudonormalidade”. Para ela, tanto as crianças com transtornos quanto o meio social (família e o colégio) precisam saber lidar com essas diferenças. “É preciso tirar proveito para o bem de todos e não reconhecer a condição como um problema”. Por outro lado, segundo a psicóloga, essas crianças apresentam potencialidades, por exemplo, no caso de hiperativos: raciocínio rápido, facilidade com esportes e tendência para desenvolver um conhecimento além do esperado em determinadas áreas.


Dificuldades

Veja o que são os principais distúrbios de aprendizagem:

Dislexia

Distúrbio ou transtorno de aprendizagem na área da leitura, escrita e soletração. Dificuldade na recordação, evocação e seqüência de letras e palavras impressas.

Disortografia

Confusões com as sílabas. Troca de letras que se parecem sonoramente.

Disgrafia

Problemas para escrever letras e números.

Discalculia

Dificuldade do aluno com operações matemáticas.

Transtorno de déficit de atenção (TDA)

Desatenção, inquietude e impulsividade.

Hiperatividade (TDAH)

Pessoa muito ativa e agitada, além do comum. Quando o portador tem déficit de atenção, há tendência de ter problemas de aprendizagem.

Dislexia atinge entre 5% e 17% da população

Crianças com transtornos de aprendizagem têm tanto potencial quanto aquelas com facilidade para ler, interpretar ou entender a tabuada escolar. Prova disso é que gente conhecida em todo o mundo, como o ator norte-americano Tom Cruise e o inventor da lâmpada, Thomas Edison, estão na lista de disléxicos famosos, mas nem por isso deixaram de superar obstáculos de leitura e escrita ao longo da vida e ter uma carreira promissora.

Conforme a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), a dislexia é o distúrbio que mais incide nas salas de aula e hoje atinge entre 5% e 17% da população mundial. Outros transtornos que preocupam são a disortografia, discalculia, disgrafia, transtorno de déficit de atenção (THD) e hiperatividade. Os dois últimos são comuns e podem contribuir significativamente para um quadro de desorganização, esquecimento na entrega de trabalhos escolares e problemas de disciplina que podem resultar na expulsão da criança do colégio.


Gazeta do Povo

08 de julho de 2.008


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