A APPDA – Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo, de Setúbal, promoveu, durante o dia de ontem, um seminário subordinado ao tema “Perturbações do Espectro do Autismo – Intervenções”. O evento contou com a participação de vários especialistas que, perante uma audiência de pais, educadores, técnicos de saúde e outros interessados, expuseram assuntos relacionados com o autismo.
Vera Gomes
veracris@portugalmail.pt
“O autismo define-se como um conjunto heterogéneo de perturbações do desenvolvimento que se manifesta na dificuldade nas relações sociais/empatia; nas dificuldades de comunicação verbal e não verbal; na dificuldade no jogo simbólico e no interesse por actividades restritas e repetitivas”, explicou José Paulo Monteiro, neuropediatra no Hospital Garcia da Orta, em Almada.
Durante a sua exposição, no seminário promovido pela APPDA – Setúbal, que teve lugar no Centro de Formação Profissional, o especialista referiu que, de acordo com dados recentes, tem havido um aumento da incidência deste distúrbio, sendo que, actualmente, uma em cada 150 crianças é autista. Este aumento do número de diagnósticos pode, no entanto, não corresponder a um real aumento da incidência, uma vez que, de acordo com o neuropediatra, este aumento pode dever-se a “uma maior sensibilização dos profissionais de saúde, de educação, dos pais e dos media e ao alargamento dos critérios de diagnóstico”.
José Paulo Monteiro indicou alguns avanços nesta área, sendo que, o mais recente tem sido “o seguimento dos irmãos mais novos de crianças autistas, que, têm um risco aumentado de desenvolver uma perturbação no espectro do autismo”. Mesmo em gémeos existe uma discordância da gravidade e taxas de recorrência inferior a dez por cento entre irmãos, revela o médico.
Apesar de “não haver medicação que cure o autismo”, indica o técnico, “há a possibilidade de intervir sobre o humor, a agressividade, a epilepsia, a atenção/concentração, compulsões/obsessões”.
No entanto, o mais importante é o diagnóstico precoce. “As múltiplas intervenções têm maior eficácia no período de elasticidade cerebral”, refere o neuropediatra, acrescentando que “todas as crianças têm capacidade para aprender, mesmo aquelas com perturbações mais graves”.
A questão do diagnóstico precoce foi reforçada por Maria José Sobral, que preside a APPDA – Setúbal que é, desde 2005, uma IPSS, fundada por “mães e pais com filhos autistas”. Baseando-se num estudo diferente, a presidente da associação revelou que “uma em cada 146 crianças é diagnosticada com autismo” e concluiu que “uma pode ser a sua!”, ou seja, “pode acontecer a qualquer um”.
O psicólogo Edgar Pereira, director pedagógico da APPDA de Lisboa, identificou os “grandes problemas do autismo: o diagnóstico, a etiologia (estudo das causas) e as terapêuticas”.
Relativamente a este último item, o psicólogo explicou que o objectivo é “modificar os comportamentos”, que podem ser definidos como “verbais ou não verbais, abertos (observáveis) ou cobertos (cognitivos, sentimentais) ”, etc. Neste ramo existem dois tipos de terapêuticas, as biomédicas e as psicológico-educacionais, sendo que, dentro de cada uma existem inúmeras opções, cuja escolha “pode ser muito confusa e desgastante”. Assim, o especialista realçou a necessidade de escolher a “melhor opção”, que deve ser aquela que oferece “resultados mais credíveis e sustentáveis e ser comparativamente mais útil para a pessoa tratada do que outras que tentam fazer os mesmos efeitos”. Para Edgar Pereira é absolutamente necessário que as terapias sejam “comprovadas com rigor científico, antes de serem aplicadas”.
O Setubalense
09 de julho de 2.008
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