A Direcção Regional de Educação Especial tem registados 223 casos de crianças com sintomas de hiperactividade. O neuropediatra Rui Vasconcelos , um dos especialistas que trata deste tipo de casos, refere que os números regionais não devem diferir dos nacionais e até mundiais: entre 4 a 6 por cento das crianças são hiperactivas. Rui Vasconcelos adianta também que quando um dos elementos do casal é ou foi hiperactivo, há 50 por centos de probabilidades do filho vir a ser.
Para o neuropediatra Rui Vasconcelos, hoje em dia, não mais nem menos casos de hiperactividade. O que acontece é que os pais estão mais sensíveis a esse problema. Por outro lado, há pais que pensam que os filhos são hiperactivos e, às vezes, isso não é verdade Em Janeiro de 2008, a Direcção Regional de Educação Especial dava apoio a 213 crianças com PDA (Perturbação do Défice de Atenção) e PHDA (Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção). Em Dezembro desse mesmo ano, o número de crianças identificadas ia já nas 223. Estes números foram divulgados ao JORNAL da MADEIRA pela Direcção Regional de Educação Especial, liderada por Maria José Camacho. O neuropediatra Rui Vasconcelos diz que não há dados estatísticos quanto ao número de crianças hiperactivas na Região mas refere que o valor não deve variar muito do verificado noutras regiões e países. Ou seja, «devemos ter entre 4 a 6 por cento de casos de hiperactividade nas crianças madeirenses». Ainda segundo o neuropediatra, quando num casal, há um elemento hiperactivo, a probabilidade de esse mesmo casal vir a ter um filho com hiperactividade é de 50 por cento. O neuropediatra considera que os problemas de hiperactividade não devem ser tratados só pelo médico. Há estudos comprovativos de que, em cerca de 36 por cento dos casos, basta a acção médica, com medicamentos específicos. Mas os restantes «necessitam de acompanhamento psicológico, com terapais complementares», defende Rui Vasconcelos. O neuropediatra diz que o ideal é, junto com o acompanhamento médico, existir acompanhamento psicológico. Na maior parte dos casos de hiperactividade, começa a ser levantada a suspeição já na idade pré-escolar. «Nestas idades, pouco ou nada se pode fazer a não ser começar por algumas terapias comportamentais. O problema põe-se quando as crianças chegam à idade escolar já que muitos dos problemas interferem com a aprendizagem e com o rendimento escolar. A PHDA apresenta-se como um problema crónico. Habitualmente, os sintomas podem atenuar-se mas não desaparecem com o tempo. O prognóstico depende das características individuais de cada criança, da intervenção terapêutica e da atitude do meio perante os comportamentos da criança. A ocasião é também aproveitada para o neuropediatra considerar que muitos pais acham que os seus filhos são hiperactivos só porque são irrequietos. «Esquecem-se que já foram crianças», refere ainda. Tratar este tipo de problema nem sempre é fácil. Mas Rui Vasconcelos garante que em cerca de 80 por cento dos casos, há bons resultados. O tratamento da perturbação é pluridisciplinar podendo incluir acompanhamento médico, psicológico, pedagógico, apoio aos pais e tratamento farmacológico. O recurso à medicação só deve ser feito, segundo o neuropediatra, após uma avaliação médica especializada, incluindo o estabelecimento do diagnóstico, as orientações psicoeducacionais e relativas á toma da medicação. Dos medicamentos que são mais usados, é de salientar os psicoestimulantes. A causa da PHDA é desconhecida. Existem estudos que apontam para problemas neurológicos, para a ausência de factores desencadeantes como acontecimentos traumáticos ou outras situações nefastas ou para o peso da hereditariedade na génese desta patologia. Problema sempre existiu mas agora os pais acham que há mais casos Situações tornam a convivência difícil O problema da hiperactividade sempre existiu. Mas, hoje em dia, as coisas tornam-se mais evidentes porque há trinta anos, por exemplo, a escolaridade não era obrigatória e, por outro lado, as crianças tinham mais tempo para extravasar a sua energia. «Brincavam na rua. Não estavam sempre dentro de casa. Agora, se o menino se mexe mais, os pais já acham que a criança pode ser hiperactiva o que muitas vezes não acontece», refere o neuropediatra. A hiperactividade, segundo Rui Vasconcelos, é uma diminuição ou ausência de controlo no indivíduo. A criança hiperactiva é incapaz de controlar a sua atenção, impulsividade e actividade motora. Não é uma ausência de vontade para o fazer, mas sim uma ausência de controlo que efectivamente traz consequências. Segundo Rui Vasconcelos, no diagnóstico, há que ter em consideração, diferentes aspectos, nomeadamente as manifestações comportamentais das crianças com PHDA (Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção), que englobam sintomas de actvidade excessiva (inquietação, motora, agitação), distracção (dificuldade de concentração, atenção dispera) e impulsividade (tendência a agir sem reflectir). As crianças com PHDA têm habitualmente uma actividade física e mental excessiva, têm dificuldade em estar sossegadas ou em prestar atenção , fazem e pensam várias coisas ao mesmo tempo, mudam frequentemente de uma actividade para a outra, nunca terminando as tarefas e têm dificuldades em cumprir regras. Por outro lado, têm tendência a agir sem primeiro pensar e envolvem-se, inclusive, em actividades perigosas. Estas crianças, segundo Rui Vasconcelos, acabam por tornar difícil, a sua convivência com os outros. Há ainda a salientar que as constantes repreensões e conflitos relacionais podem levar a que a criança se sinta rejeitada, desvalorizada, excluída ou até injustamente culpabilizada em determinadas situações, o que pode contribuir para potenciar a instabilidade comportamental e diminuir a sua auto-estima. Psicólogo José Manuel alerta Pais e televisão não são os culpados O psicólogo madeirense José Manuel apresentou, na última semana, um trabalho num congresso que decorreu ao nível nacional e cuja temática esteve relacionada com a problemática das crianças hiperactivas. Do ponto de vista da psicologia, José Manuel considera que a hiperactividade é um assunto em que ainda se põem muitas dúvidas. Para o psicólogo madeirense, a hiperactividade deve ser acompanhada numa perspectiva multidisciplinar, sendo que outras áreas como a neurologia, a biologia e os professores têm algo a dizer sobre o mesmo assunto. Da parte da psicologia, aquilo que «posso dizer é que a a comunidade internacional aponta que a hiperactividade tem como origem predominante biológica. A hiperactividade poderá ter um aspecto mais genético, congénito, desenvolvimental. «Factores do meio podem também estar ligados», refere o psicólogo madeirense, o qual adianta que hiperactividade nada tem a ver com questões de educação. José Manuel esclarece que os estudos indicam que os pais de crianças hiperactivas «têm, inclusive, tendência de ser mais rigorosos e organizadores do que os demais. Por tanto, não tem nada a ver com falta de educação. Isso é um mito», refere o psicólogo. Outro mito que, no entender de José Manuel, existe, está relacionado a televisão. O psicólogo garante que os media ”não têm efeito nos comportamentos de hiperactividade das crianças. O psicólogo afirma que a questão da hiperactividade deveria ser alvo de um estudo mais profundo. «Na minha opinião pessoal, é preciso estudar melhor esta situação. Porque se é verdade que se encontram sintomas de hiperactividade em indivíduos com menos de 21 anos, não sei se haverá sintomas de hiperactividade em indivíduos com idade superior a 25 anos», adianta o psicólogo. Não desviando o raciocínio, José Manuel diz que vemos que há uma evolução cognitiva, em termos de inteligência, até aos 25 anos e que é linear. No entanto, em termos de maturidade psíquica, aí as coisas só se encontram lá por volta dessa idade. Não estão quantificados mas... «Algumas centenas de pacientes passam por mim» O neuropediatria Rui Vasconcelos não é o único a lidar, na Madeira, com crianças hiperactivas. Mas admite que, pelas suas mãos, passam algumas centenas de casos. «Nunca quantifiquei mas esses valores que lhe estão a dizer não são exagerados», afirma o neuropediatra. Há casos de jovens que já se encontram na Faculdade e que continuam a ter problema em se concentrar. A hiperactividade desaparece, normalmente, com o passar dos anos. Mas o défice de atenção mantém-se, considera o neuropediatra. Aquele especialista refere que, quando detecta que a criança é hiperactiva, trata de escrever uma carta à professora ou professor do mesmo, onde dá conta das dificuldades que o aluno pode apresentar. Na missiva, Rui Vasconcelos salienta o facto de ser importante encarar a hiperactividade como um problema de saúde e não como resultante de factores multidisciplinares. «Esta situação não é geralmente de natureza primitivamente emocional, mas pode dar origem a problemas emocionais secundários graves quando não devidamente encaminhada», conclui. Foi divulgada, recentemente, no Funchal, uma terapia inovadora no tratamento de défice de atenção concentrada com ou sem hiperactividade que permite a supressão dos fármacos e garante os seus resultados. Segundo informação enviada à comunicação social, esta terapia tem o nome de “mindstation”. |
Jornal da Madeira - PT
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