terça-feira, maio 05, 2009

Inclusão de especiais é desafio para o sistema

A adoção do Enem pelas universidades pode se tornar uma má notícia para as pessoas com necessidades educacionais especiais. A Universidade Federal do Paraná é uma das únicas instituições do Brasil com reserva de vagas para esse grupo. Como a concorrência será com todo o país, caso a instituição adote o novo Enem, o ingresso na UFPR poderá ficar mais difícil. Outra preocupação é com a mobilidade dos alunos, já que muitos têm necessidades especiais e não poderiam deixar a família e estudar no Acre, por exemplo. Em muitas universidades há também a falta de preparo para atender os estudantes na hora da aplicação da prova e falta de estrutura para recebê-los.

O Ministério da Educação afirma que, pelo contrário, o novo Enem possibilitará que esses alunos tenham a chance de concorrer em várias universidades, o que não acontecia antes. O MEC afirma que a prova propiciará que os conteúdos do ensino médio sejam trabalhados de forma diferente, trazendo mais igualdade para a concorrência. Outro argumento é que cada instituição continuará livre para fazer as políticas afirmativas que desejar. Quem tem cotas, poderá continuar com elas da mesma forma.

A cada ano os alunos e professores do colégio estadual Alcindo Fanaya Júnior ficam desapontados com a repercussão que a nota do Enem tem. O colégio é o maior para surdos no estado e uma referência nacional. E a cada prova se sentem injustiçados pela nota baixa. Mesmo sendo lei o direito a um tradutor de libras, grande parte dos alunos não o tem na prova. O resultado é como fazer uma avaliação em chinês. Para os surdos, a língua materna não é o português e sim a língua de sinais (Libra). Sem um tradutor, não há como fazer a prova.

A escola é regular, os alunos têm quase o mesmo ensino que os demais, a não ser pela Libras. Até dez anos atrás, era uma espécie de internato, hoje é referência. O problema é que esta prova do Enem não foi diferente dos outros anos. Faltaram intérpretes e banca examinadora especial. Para os educadores, o ideal é que a prova fosse em Libras.

Para o sociólogo e doutorando sobre a inclusão de surdos Fagner Carniel, a inclusão é um processo fundamental da democracia. Ele acredita que a sociedade deve respeitar as diferenças e especificidades dos surdos. A professora de língua portuguesa do Alcindo Fanaya Júnior teme que a adoção do Enem prejudique a entrada dos alunos na universidade. “Seria difícil a mudança deles para outros estados”. O aluno Alison Pereira vai prestar vestibular e Enem neste ano e esta preocupado. Mas garante que já superou o maior desafio da vida. “Quando aprendi a língua de sinais assumi minha identidade e me construí como sujeito. Não tenho medo do futuro”.

Victor Hugo Zanin Armacollo tem síndrome de Down e também está temeroso em relação à adoção do novo Enem porque não teria condições de morar em outro estado. Ano passado ele prestou vestibular para História e fez a prova do Enem. Como os surdos, também teve dificuldades na prova por falta de uma banca especial. Situação diferente de quando fez o vestibular, com o auxílio de um profissional o tempo todo. Victor quebra barreiras e quer continuar tentando. Trabalha na Casa Amarela, espaço de contra turno da Funpar para meninos e meninas com Down. Quer ser pedagogo e continuar atuando com crianças.


GAZETA DO POVO
PARANÁ

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